Carnaval de Gestos - “Arcos de Oxóssi” (2023)
É fato que o trabalho intelectual e artístico são faces da mesma moeda, capazes de revelar modos de vida. A fusão de minha perspectiva sensível como etnógrafo e artista visual leva-me a uma visualização reveladora da vivência expressiva das danças de sambas de enredo. Durante minha pesquisa de campo com os passistas das escolas de samba do Rio de Janeiro fui adquirindo saberes capazes de entender o que se passa no ato de sambar, tanto por meio de levantamento bibliográfico, quanto por observação participativa. Ouvi de diversas fontes que o gesto da ponta dos dedos que ora lembra uma pinça, ora lembra um arco, é alusivo ao que as religiões de matriz africana chamam de Arco de Oxóssi – um movimento que ocorre na ocasião das danças que se paralisam, apontam, ludibriam, se desmancham e se refazem, conforme escolha do interpretante, de modo especialmente rápido. As imagens captam diferentes instantes desse gesto in situ.
Não me interessa se o ato gestual das mãos está nomeado de outra forma, por outros saberes, neste ensaio resgato imagens captadas ao longo dos anos de 2017 a 2019, onde fica visível essa performance corporal, bem como a maneira como os passistas as praticam ou nomeiam seus movimentos pautados na ideia de tradição e ancestralidade negra.
O contexto das imagens se referem as apresentações coletivas e individuais dos passistas, em concursos do segmento (2019), nos típicos ensaios de rua feito nas imediações da quadra da Mangueira (2018) e no desfile oficial das agremiações da Série B, na Intendente Magalhães, no bairro de Madureira (2017). Os registros feitos ao longo desses anos são frutos do estudo imersivo nos territórios do carnaval, do interesse em expressões populares periféricas do Rio e de suas potências estéticas aqui convertidas no ensaio “Carnaval de Gestos - Arcos de Oxóssi”.













