A Mangueira é a África que se reuniu nas américas em torno do tripé: cantar, dançar e batucar.
Por Rodolfo Viana: Artista-Pesquisador e Doutor em Comunicação.
A gente ficou sabendo que você Viola, vai ser a Nanisca, A Mulher Rei. Que comanda um exército contra a violência do invasor. Uma história que vai falar de luta, de raça e de uma guerreira do Reino de Daomé, na África. Ah Viola, a gente precisa te contar a história da luta do nosso Reino também.
No Brasil, temos muitos exércitos, muitos quilombos de resistência negra. O nosso reino aqui é a Estação Primeira de Mangueira, que nasceu em 1928. Nessa história, a gente tem que te dizer que “cada lágrima que já rolou fertilizou a nossa esperança”. Cada lágrima que já rolou daí, do seu rosto preto, por aqui Viola, fertilizou a esperança da nossa gente. Tua luta, a luta das Naniscas, das Marielles, “valeu a pena”.
Então, é difícil te contar o que você já sabe com palavras. Mas a gente pensou em te contar o porquê a Mangueira é Brasil, pelas nossas emoções. Porque “são tantas emoções na Verde-Rosa”.
As nossas armas são esses instrumentos aqui, cada detalhe desse som faz a gente conversar entre nosso povo. Faz a gente se comunicar com nosso povo preto entre as américas. Vamos já fazer essa conversa, sem precisar de palavra.
Os pés das guerreiras que vão dançar aqui tem memória africana, é nosso chão, a gente chama por aqui de ginga, de malemolência, de malandragem. Tudo isso foi transmitido para nós de geração em geração e está conversando com os exércitos do dance hall, do hip hop, do break, do soul, do jazz. É a maestria dos nossos passistas. É o giro das nossas baianas, o bailado do nosso casal de mestre sala e porta-bandeira. É a ginga da nossa Rainha. A sabedoria da nossa velha guarda.
E todo o jeito de se mexer da nossa corte. Nossa Viola!
Já te contei dos nossos sons, dos nossos batuques, já te contei das nossas danças, porque é nosso Viola - nosso - , “tudo nosso!” Agora, falta te contar sobre o canto que narra o Brasil.
Foi o jeito que a gente deu de criar um roteiro com a cara do nosso povo: a Mangueira. Olha a nossa cara Viola, olha pra gente, é por isso que a gente canta que a “Mangueira é nação, é comunidade”. A maior escola de samba do planeta. Com essa emoção aqui. Com essa garra, com essa força.
Porque por aqui ainda não aconteceu revolução. A gente nem sabe muito o que é isso tá. Diante de toda a violência racista de nossos países, cada um conta a sua história de luta como foi possível, tudo que você vai sentir, são nossas lendas e crendices, de um país com uma realidade difícil, mas um Brasil feliz e sabe porquê?
Porque diante de toda a dor, a nossa revolução é essa. Nosso grito é esse, o que a gente fez e faz é Carnaval. É com o carnaval que a gente mostra um Brasil que “não tá no retrato”. Com nosso rosto que é igual ao seu. De gente guerreira. “Um Brasil de Leci, Jamelões”.
Nossa bateria, a Surdo Um, imita o som das batidas do coração. Porque se tem batuque, é porque tem canto, e se tem canto, é porque tem dança. Isso pra nós é a África. E, é do fundo do nosso coração que a gente quer narrar pra você o que é o Brasil guerreiro.
Veja e ouça o texto com a narração de Márcio Perrota.
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